Tenho
Psoríase. É uma doença crónica, incurável e não contagiosa.
Eu moro num meio pequeno e, como devem depreender, nem sempre as marcas na minha pele foram vistas com 'bons olhos'.
Apesar de ainda existirem dias em que só me apetece me enfiar na cama e lá ficar, agora sei que não me posso esconder e que não devo ter vergonha da minha pele. Vou ter que viver com ela até ao final da minha vida e, por isso, mais vale não estar chateada comigo própria.
Há uns meses atrás escrevi este texto que demonstra exactamente o que sinto e o que sentia em relação a esta doença.
Há cerca de dez anos senti que era apenas uma personagem a viver a vida de outra pessoa. Uma pessoa que não tem cara, não tem nome, nem personalidade e que não tem sentimentos. Um alguém que ataca quando menos se espera. A psoríase.
A Psoríase é uma doença crónica que se manifesta na pele. É incurável, mas não é contagiosa. Acordei e a minha pele já não era a mesma.
Confesso que fiquei assustada quando apareceram os primeiros sintomas. Chorei quando soube que era incurável porque só aí é que tomei consciência que isto era algo permanente. Chorei, fechada no meu quarto, de medo e de raiva.
Como é uma doença que se torna visível aos olhos de todos, é difícil se sentir aceite. Descobri a maldade nas pessoas e descobri, da pior maneira, em quem podia confiar e quem devia eliminar da minha vida. Seguidamente vieram os comentários de pessoas que considerava ser amigas e nenhum era agradável. Nessa altura, a única defesa que encontrei foi esconder-me de mim própria. Tentava disfarçar as marcas na pele com maquilhagem e fingia que a opinião dos outros não me incomodava. Não ia à praia, usava camisolas de mangas compridas no verão e o sentimento de vergonha era terrível.
Alguns anos depois apercebi-me que a minha atitude em nada ajudava a minha saúde e foi aí que mudei a minha vida. Em vez de esconder e de ter vergonha da minha pele aproveitei para ensinar todos aqueles que se mostravam curiosos e isso tornou-me mais madura. Deixei de disfarçar as cicatrizes na pele com maquilhagem e comecei a fazer tratamentos mais frequentes.
Lutei muito para ser aceite. Ainda me revolto e tantas vezes pergunto “Porquê a mim?”. Nunca vou saber a resposta a esta questão, mas tenho uma certeza. A convicção que quero ver esta doença se libertar das amarras do estigma, do desconhecido e do preconceito que lhe está associada.
Imagem retirada de Healing Alopecia Areata