domingo, 6 de abril de 2014

Uma Revelação #5

Hoje quero falar de um assunto bastante sério: o Bullying

Segundo a Wikipedia, Bullying é um termo utilizado para descrever actos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.

Venho partilhar a minha história hoje, pois nunca o fiz antes (hoje é a primeira vez que o admito - nem a família sabe) e esse foi o meu maior erro. Hoje sei que se não me tivesse escondido talvez tivesse conseguido me ajudar e ajudar alguém na mesma situação que eu.
Fui vítima de bullying, repetidamente pela mesma pessoa e grupo de amigos, desde o 5º ano até 10º ano (ano em que ele saiu da escola). 
Como já revelei, tenho Psoríase e por isso a minha pele sempre foi diferente. Estas pessoas acharam que eu não deveria ser tratada com respeito ou como as outras crianças/adolescentes. Todos os dias, este rapaz dizia-me "Sofia, estás cada vez mais feia". E repetia isto, todos os dias sem excepção. Um dia, nas férias (quando tinha alguma paz), descobriu o meu número de telemóvel e passei a receber mensagens diárias, dele e dos amigos, com conteúdo pouco amigável. Ainda me lembro de todas essas palavras, como se fosse hoje. Diziam que eu era horrorosa, uma porca que não tomava banho, que eu devia ser presa para não sair de casa, que eu devia ter vergonha de ir à escola, etc...
Um dia tentaram me enfiar num caixote do lixo, daqueles gigantes, mas felizmente alguém os travou. 
Foi uma viagem solitária até ao 10º ano. Isolei-me, não tinha amigos, andava sempre cabisbaixa, mas orgulho-me de nunca ter tido más notas. 
Arrependo-me imenso de ter guardado este segredo para mim. Penso que se tivesse contado a alguém, logo no início, não teria anos de tortura psicológica. Já passaram tantos anos e ainda tenho algumas mazelas desse tempo, como falta de confiança e auto-estima. É difícil me achar bonita e nunca acredito quando alguém diz que o sou. Sei que não sou a pessoa feia que me fizeram sentir, mas aquele sentimento nunca sai verdadeiramente. 

Há cerca de 3 anos atrás, a pessoa que mais me tratou mal, descobriu-me no Facebook e mandou-me uma mensagem a pedir imensas desculpas pelo que me tinha feito. Nessa mensagem disse que tinha uma filha de 5 anos que era vítima de bullying na escola, por parte dos coleguinhas, por ter um pequeno defeito num olho. Foi aí que ele percebeu todo o mal que me fez. Nunca lhe respondi, pois não consigo perdoar, mas uma parte de mim, libertou-se com esse pedido de desculpas.

Adorava ter um papel mais activo no combate a esta praga que cada vez mais se está a espalhar. Com pequenos passos sei que vou longe. Se conseguir ajudar, pelo menos uma pessoa, vou me sentir melhor comigo própria. 

Não sejam maus e tratem com respeito todas as pessoas, com todos os seus defeitos e qualidades. Aprendi a não julgar um livro pela capa, pois senti isso na pele. 
Se sofreram/sofrem ou conhecem alguém que está a passar por isso, procurem ajuda e tentem ajudar. Não deixem estas pessoas passar impunes, como eu fiz.

Imagem retirada de A Kaur's Thoughts

23 comentários:

  1. Só o facto de estares a partilhar a tua história, no meu entender, é uma forma de ajudares as pessoas, porque as fazes perceber que não há mal nenhum em contarem o que se passa com elas. Muito pelo contrário, é a falarem com alguém que talvez consigam alterar essa situação.
    Felizmente, nunca passei por isso, mas acredito que seja mesmo doloroso. E acredito que não tenhas falado precisamente por isso, por magoar tanto que dizer o que se passava em voz alta era como se estivesses a abrir mais a ferida.
    «Nunca deixes que te digam que não és capaz», nem que não és bonita. Muita força!

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    1. Obrigada pelas tuas palavras, Andreia. É muito importante para mim. :)
      E sim, todos devem perceber que não faz mal ter defeitos e não faz mal procurar ajuda.
      Beijinho*

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  2. Oh minha linda, imagino que o que passaste não foi nada fácil. Nunca passei por isso, mas já estive em escola e já falei sobre esse tema imensas vezes e sei que isso é um mundo... e que é mesmo dificil.
    Este foi o video que fiz para apresentar numa escola, que achas? https://www.youtube.com/watch?v=1kdKPotbqBo

    beijinho grande ♥

    http://naervilhadapolly.blogspot.pt/

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    1. Gostei muito do vídeo, obrigada por partilhares. Consegui me rever em tantas partes! E gosto muito da música dos Simple Plan, já não ouvia há tanto tempo!
      Beijinho e obrigada pelas tuas palavras!*

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  3. Tenho muita pena que isso te tenha acontecido, ninguém merece ser tratado dessa maneira!!! Tenho que de dar os parabéns por conseguires falar sobre isso porque acredito ser muito difícil para ti, e acho que foi muito bom a pessoa ter a tido oportunidade de te pedir desculpa, acho que deves tentar perdoar a essa pessoa para te libertares desse peso, e acreditares cada vez mais em ti e na tua força, afinal passaste por tudo isso numa idade tão complicada de crescimento e mesmo assim mantiveste as tuas boas notas!
    Bj S

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    1. Muito obrigada, S. pelas tuas palavras!
      Quanto ao perdoar, por enquanto não consigo, este tem sido um processo longo e lento. Já me dou por feliz por ter conseguido escrever sobre o que me aconteceu.
      Beijinhos*

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  4. Também eu no 5º e 6º ano fui vítima, por ser um pouco mais alta não tinha nome, era a girafa! Hoje tento que o meu filho perceba que somos todos diferentes, entre iguais.

    http://araparigadoautocarro.blogs.sapo.pt/

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    1. Lamento que também tenhas passado por isso. Acho que por mais que se continue com a vida e se ultrapasse, há coisas que não se esquecem. Eu não tenho filhos, mas se os tiver, também irei sempre tentar que trate todos com respeito e dignidade.
      Beijinho*

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  5. As crianças conseguem ser muito más...
    Fiquei triste em saber que passaste um mau bocado...
    Felizmente parece-me que conseguiste seguir com a tua vida.
    Acredito que cá se fazem cá se pagam... Pena é que é a filha a sofrer...

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    1. É verdade, consegui seguir com a minha vida, mas existe sempre aquela mágoa por a minha adolescência ter sido estragada.
      Também tenho muita pena que a filha dessa pessoa é que tenha que sofrer, pois nenhuma criança merece passar por isto. :(
      Beijinho*

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  6. teres partilhado a tua história há-de tocar alguém, como me tocou a mim, e há-de chamar a atenção a algumas pessoas. tenho pena de teres que ter passado por isto e tenho pena de quem continua a passá-lo. acredita em ti *

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    1. Obrigada pelas palavras, Becas. Espero que sim, que chame a atenção a algumas pessoas, especialmente àquelas que ainda estão a sofrer com isto. Espero que consigam ter a força que eu não tive.
      Beijinho*

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  7. Bullying é horrível e pode deixar marcas psicológicas. Talvez se o tivesses partilhado na altura, essa situação teria sido travada. Mas depende do feitio da pessoa... No meu caso, por exemplo, se fosse vitima disso provavelmente também ia guardar para mim dada a minha personalidade.

    Mas já passou, é o que importa. E no fundo, ele agora está a ser castigado pelo que te fez.

    Beijinho e boa semana *

    http://agatadesaltosaltos.blogspot.pt/

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    1. Obrigada pelas tuas palavras. O bullying deixa mesmo marcas psicológicas. Apesar de eu já não pensar nisso ou sofrer imenso com o passado, há sempre aquela vozinha dentro de mim que diz que eu sou inferior. E é essa marca que o bullying deixa, apesar de não ser visível, é terrível.
      Eu também guardo tudo para mim, é a minha personalidade. Quando me magoam não consigo dizer logo. Hoje em dia, conforme vou amadurecendo, já vou conseguindo expressar mais os meus sentimentos e o que me aconteceu no passado. É sempre bom partilhar, pode ser que consiga ajudar alguém.
      Beijinho e boa semana também para ti.*

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  8. Sofia, antes de mais, obrigada pela partilha.
    Espero que te tenha feito bem revelar algo que nunca tinhas partilhado, espero que tenha sido um passo grande e firme para ultrapassar o que te fizeram.
    Eu usava óculos e tinha a psoríase, mas nunca me fizeram tal coisa, é que nem caixa de óculos me chamavam, nem consigo imaginar a tua angústia...
    Não te convenças que és feia, de certeza que não és. Ainda para mais a beleza interior espelha-se no exterior, por isso é linda! O que diziam era mesmo para te ferir apenas, não a opinião sincera, tenho a certeza. É a maldade acima de tudo, e depois vão uns atrás dos outros.
    Infelizmente quem cospe para o ar corre sempre o risco de a "cena" lhe cair em cima. E digo infelizmente porque é uma criança inocente que está a pagar pela besta do pai.
    Sê feliz Sofia, deixa os fantasmas irem. Lembra-te que tu não é a psoríase ou isto ou aquilo. És um todo, e quem olha vê um todo. Deixa transparecer o que melhor tens e não te foques nas possíveis "imperfeições". Se tu não lhes virares os holofotes, ninguém vai reparar!
    Beijinho
    Sara

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    1. Olá Sara.
      Antes de mais, um grande obrigada pelas tuas palavras.
      Pensei imensas vezes antes de escrever esta publicação, mas decidi que era hora de o fazer. O próximo passo é tentar contar aos meus pais, pois nunca o fiz. Sempre fingi que estava tudo bem quando só me apetecia me trancar no quarto e nunca mais sair de lá.
      E fico muito triste pela filha da "besta". Nenhuma criança devia ter que sofrer com a pressão de se ser fisicamente perfeito.
      No meu caso, já se passaram 12 anos, desde essa altura e ainda tenho muitas inseguranças que sei que provêm do bullying que sofri.
      Aos poucos, vou ultrapassando os obstáculos e derrubando estas paredes que construí à minha volta. :)
      Beijinho grande*

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    2. Pois...também não foi nada bom guardares tanto tempo isso tudo dentro de ti. E tu sabes disso.
      Agora que deste o primeiro passo segue!
      Beijinho

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  9. Sofia, fez bem em partilhar. Pelo bem que a partilha lhe faz a si, mas principalmente porque nunca se sabe quem lê e pode fazer bem a outros: vítimas e até quem sabe carrascos, que percebam que um dia podem ser eles a sentir na pele o que agora andam a fazer. E se foi preciso o seu carrasco ter uma filha vítima para perceber... não me parece que haja perdão possível. E isso é lícito e não faz de si pior pessoa, apenas alguém que se sente, e diz o ditado que "quem não se sente não é filho de boa gente". Há no meio disto tudo algo importante: se consegue escrever sobre o assunto, consegue recordar, e agora, com mais idade, perceber o que deveria ter feito e não fez (como falar) - pode aplicar esse conhecimento noutras áreas da sua vida, do género se algo está mal, pensar como irá recordar daqui a uns anos as suas acções presentes para remediar esse mal. Desculpe o comentário longo, sou sensível ao tema.

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    1. Obrigada pelas tuas palavras, Ernesto.
      Eu também acredito que não existe perdão possível para tais barbaridades. Mas tenho imensa pena que a filha dele tenha que sofrer com o mesmo, pois ninguém merece.
      E tem razão, na altura posso ter deixado me magoar sem lutar, mas hoje em dia, sei que sou um ser humano equilibrado e sensível a estas causas.
      Mais uma vez obrigada pelo seu comentário. Bom fim de semana, beijinho*

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  10. Tens toda a razão e direito em te sentires assim. E mais uma vez se comprova que só quando as pessoas sentem na pele é que dão valor e conseguem distinguir o certo do errado. Enfim é seguir em frente de cabeça erguida :D

    Foste escolhida para responder a uma TAG, passa pelo meu blog querida.

    Beijinhos. http://mademoisellecf.blogspot.pt/

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    1. Sem dúvida, Cátia. Infelizmente, o pedido de desculpas veio tarde de mais e o arrependimento só veio quando ele se apercebeu que alguém que amava sofria do mesmo que o pai fez durante anos.
      Beijinho e obrigada*

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  11. Encontrei o teu blog por acaso e este foi o post mais recente que mais me prendeu. Eu também sofri de bullying na escola, quando tinha 13 anos. No início, fazia de conta que não os ouvia, não valia a pena lutar porque toda a minha turma ou estava contra mim, ou limitava-se a calar para não sofrer o mesmo mal. Fazia de conta que não existiam, e pensava que eles se iam calar ao cabo de algum tempo. Mas não se calaram, e passado uma semana, cheguei a casa e fiz queixa deles e obriguei os meus pais a ir à escola. Nem eles nem a directora de turma perceberam "qual era o meu mal", e tive de ser eu a tentar fazer entender aos adultos o que estava errado. Depois a directora falou com os meus colegas e eles chamaram-me queixinhas por umas horas. E depois o caos cessou.
    Nunca entendi por que razão me fizeram aquilo, não foi por causa dos meus óculos, ou por ser pequena, ou magra, ou o que quer que fosse. Sei que as piadas começaram por acharem que o meu cabelo era demasiado encaracolado, mas depois disso acgo que simplesmente ficaram fora de controlo. Provavelmente acharam que eu era um bom alvo por parecer frágil e pequena, mas só posso especular. Sei que foi o facto de fazer "queixinhas" que os parou de forma tão rápida e definitiva. Até hoje, não fui capaz de os perdoar, nem sei se o vou conseguir um dia.
    Como já me alonguei demais, só me resta dizer que fico triste por saber que passaste pelo mesmo, e de forma muito pior do que eu, mas feliz por ver que é algo que estás a ultrapassar. *****

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    1. Olá Nightwish. Obrigada por teres encontrado o meu blog e por teres partilhado a tua história também.
      Admiro a tua coragem por teres feito algo para acabar com o mal pela raiz. Também me apercebi dessa situação que falaste sobre os teus pais e professores não se terem apercebido de nada.
      Quanto aos meus pais, eles nunca poderiam ter feito alguma coisa, pois eu chegava a casa e disfarçava de tal forma que eles pensavam que a escola era um local perfeito para mim. Mas os professores? Muitas vezes, este rapaz chamou-me nomes à frente deles e nenhum foi capaz de fazer algo. Muitas vezes viram-me tão deprimida e triste, mas nada disseram. Penso que lhes faltou algo tacto para lidar com a situação.
      Obrigada uma vez mais pelas tuas palavras. Beijinhos*

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